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A Metamorfose Franz Kafka – Crítica e Análise da Sociedade Capitalista

Sempre gosto de postar informações sobre Livros que caem em exames de Vestibulares ou assuntos mais relacionados a área da Medicina, mas hoje vou comentar um pouco sobre uma obra que li recentemente e que possui um rico conteúdo para análise da condição humana. Essa reflexão sobre a sociedade e o homem é importantíssima para os profissionais que lidam diretamente com a vida de outras pessoas, não só médicos, como psicólogos, professores, assim como para estudantes e todos interessados na compreensão da sociedade…

O livro chama-se "A Metamorfose" e foi escrito por Franz Kafka (abaixo está capa do livro edição de bolso), a leitura é bem rápida, fluida e envolvente, na qual o drama relaciona-se com o psicológico e social do protagonista Gregor no qual o leitor atento percebe a critica aos valores da sociedade capitalista, da família, e a situação do homem oprimido e excluído

Autor e Obra

Franz Kafka (1883-1924) foi um dos escritores mais importantes do seculo XX. Nasceu em Praga (atual Republica Tcheca), no seio de uma família judia, e compôs suas obras em alemao. Sua vida foi marcada pela relação dificil com o pai, pelos complicados relacionamentos afetivos e, por fim, pela tuberculose, que lhe consumiu os derradeiros anos. A prosa de Kafka desenvolve-se num mundo de pesadelo, em que predomina a solidão do individuo, indefeso diante do poder. O termo Kafkiano se tornou parte do vernáculo de muitos idiomas ocidentais, inclusive o português, para designar situações absurdas e opressivas.

Sinopse de "A Metamorfose"

A novela publicada em 1915 é uma narrativa fantástica em que o personagem central, Gregor Samsa, ao despertar certa manha, "depois de um sono intranquilo, achou-se em sua cama convertido em um monstruoso inseto". Depois desse começo abrupto, a historia se desenvolve em torno das mudanças de comportamento que Gregor observa em si e na sua família. (Fonte Edição de Bolso da Saraiva)

Análise e Comentários da Obra "A Metamorfose"

Gregor Samsa era o filho que sustentava a casa, seus pais mais avançados em idade e de saúde mediana dependiam inteiramente do jovem, assim como sua irma mais nova Grete (a violinista). Um dia Gregor acorda transformado em um bicho misterioso, tudo indica um inseto, e não vai trabalhar, com isso todos dirigem-se para o quarto e chamam por ele, ate o chefe de Gregor aparece (o que já da indícios de como ele era explorado em seu serviço de caixeiro-viajante) … Quando descobrem o ocorrido com o filho todos se apavoram, mas com o passar do tempo buscam formas alternativas de suplantar as dificuldades – com isso os que antes eram incapazes de trabalhar tornam-se trabalhadores (o pai, a mãe e ate mesmo a irmã).

Cuidar do inseto torna-se um fardo `a família que passa a despreza-lo, a irmã já não quer mais limpar o quarto do irmão, nem ligam se ele esta comendo ou não, e nem tentam manter alguma comunicação com ele. Isso torna-se muito doloroso para Gregor que tem consciência de sua situação perante os seus e perante a sociedade. 

Em muitos momentos ele se enfurece e se entristece com o que vive, e ocorrem cenas marcantes como quando Gregor vai ouvir a irma tocando violino e esta fica muito nervosa com sua presença na sala, grita e pede ao pai que o expulse. Este lança varias maçãs contra o filho, que sente as feridas tanto físicas quanto emocionais de se ver repelido por todos. (Eu realmente achei essa parte a mais triste e chocante do livro. Não direi o final da historia para que aqueles com curiosidade leiam a obra e depois reflitam sobre a mensagem que ela transmite).

“… quando nesse momento alguma coisa, atirada de leve, voou bem ao seu lado e rolou diante dele. Era uma maça; a segunda passou voando logo em seguida por cima dele. Gregor ficou paralisado de susto; continuar correndo era inútil, pois o pai tinha decidido bombardeá-lo. Da fruteira em cima do bufê, ele havia enchido os bolsos de maçãs e, por enquanto, sem mirar direito, as atirava uma a uma. As pequenas maçãs vermelhas rolavam como que eletrizadas pelo chão e batiam umas nas outras. Uma maçã atirada sem força raspou as costas de Gregor, mas escorregou sem causar danos. Uma que logo se seguiu, pelo contrário, literalmente penetrou nas costas dele. Gregor quis continuar se arrastando, como se a dor, surpreendente e inacreditável, pudesse passar com a mudança de lugar; mas ele se sentia como se estivesse pregado no chão e esticou o corpo numa total confusão de todos os sentidos…”

Assim, o livro A Metamorfose explora a solidão, os sentimentos de exclusão e as crises do homem contemporâneo, sendo uma referência da literatura universal para se abordar com profundidade aspectos sociais. Nele estão destacadas as contradições que envolvem as relações humanas – pois quando a família descobre a transformação vivenciada por Samsa, ele passa a ser desprezível e deve ser eliminado. 

A impotência de Samsa, por exemplo, perante ações que antes lhe eram rotineiras como sair da cama ou caminhar, faz uma alusão às fraquezas humanas diante de pressões sociais. O livro denuncia como a sociedade atual capitalista restringe o valor do ser humano ao que ele produz e às aparências – uma nítida associação do ser a um produto que pode ser substituído como uma máquina ou algo semelhante. 

A obra foi escrita em 1912, dois anos antes do início da Primeira Guerra Mundial. O clima de agonia e pessimismo mantido por Kafka é apontado por alguns autores como relação direta com o cenário mundial da época em que a obra foi escrita.

Apesar de ter sido escrita no início do século XX, a obra permanece atual porque explora temas característicos da sociedade contemporânea, como a crise existencial, a desesperança do ser, pessimismo, a ausência de resposta, a solidão, impotência e a fuga. 

** O que achou das Informações sobre o Livro A Metamorfose? Se você já leu ou conhece a Obra deixe seus comentários aqui no ABC da Medicina…

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Comentários




Sobre o autor | Website

Sou estudante do 6º ano de Medicina na Faculdade de Medicina da USP, blogueira desde 2012 quando fazia Cursinho pré-vestibular. Também participo do Vlog Mediários, um canal do You tube!

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40 Comentários

  1. Roberto Campos disse:

    Esta obra,e/ou conto,apesar de escrita ha tanto tempo tem um quê de atual.Até porque não há um tempo preciso,especificado no texto.Numa primeira leitura que fiz há alguns anos,senti uma certa repulsa,mas numa última leitura percebi a beleza desta obra.É um texto tocante por isso eu não a chamaria de épico por tem a narrativa marcante,mas o chamaria de lírico.É meu ponto de vista não significa que pode ser o que estou falando,cada um interpreta à sua maneira.
    Existem vários Gregor samsa atualmente,por isso considero um texto atual.
    O número de indivíduosa que são o alicerce da família e que quando se tornam inválidos passam a ser um peso é grande,e é isso que acontece na maioria das vezes.O indivíduo só é bemquisto quando explorado.
    É uma leitura gostosa de se fazer,com uma linguagem bem símples,pelo menos a tradução que eu li,e recomendo a todos que gostam de ler,que leam imaginando a partir do ponto de vista do personagem.se fosse você como se sentiria?

  2. Vanessa. disse:

    Muito bom o livro . Adorei !

  3. Maria Olivia. disse:

    muito bom , e interessante.

  4. Cynthia Ellen Sipriano disse:

    A Metamorfose foi um dos livros mais interessantes que eu já li….eu refleti muito quando estava lendo esse livro,pois eu vi alguns membros de minha familia como uns verdadeiros insetos!

  5. Danilo henrique disse:

    …leia o livro e a terá …..
    Os livros do franz kafka são legais mas ao mesmo tempo tão chatos não sei explicar ….. eu li “o processo” também … gostei mais desse segundo … é mais realista

    A metamorfose conta a história de um jovem …. babababa acha que vou contar??? …. leia …faz bem …. e sempre nos ajuda …. acredite …..
    Até hoje não consigo imaginar o “bicho” que o tal menino se tornou ….. …. livro bem psicótico ….. leia o livro é bom !!!!

  6. douglas vinicius disse:

    Ate qe a metamorfose e bom,eu li esse livro e vi muitas coisas importante

  7. Ana cristina disse:

    A metamorfose nada mais é do que uma confissão pessoal disfarçada se pudesse resumir esse tema em uma única palavra, essa palavra seria “alienação”. Essa era a maior característica da sociedade que emergiu da Revolução Industrial que era uma sociedade muito diferente daquelas tradicionaisdo passado. É uma sociedade fortemente competitiva, na qual não haveria lugar para o mais fraco, nem para o diferente, como no caso de Gregor Samsa que se encontrava metamorfoseado. A metamorfose ela nos transforma não em inseto mais em seres mais lúcidos e mais abertos para o mundo em que vivemos .

  8. Alinne de Souza disse:

    A metamorfose fala sobre um ser humano que vive a mesma rotina de sempre,e de repente vira um asqueroso inseto.Refleti e vi esse livro nos nosso dias de hoje,pois as pessoas se acostumaram com a rotina e se esquecem de se divertir e fazer outras coisa mais do que somente trabalhar e cuidar dos filhos e maridos….

  9. Thais Machado da Silva disse:

    O livro é bom, retrata sobre coisas cotidianas, mas em fatos diferentes explora a solidão, os sentimentos de exclusão e as crises do homem.

  10. carlos eduardo disse:

    o livro relata que o gregor virou um inseto e o livro tambem e muito detalhista so que nao quis falar especificamente o nome do inseto mas e muito detalhista

  11. marks jhannys disse:

    Sinopse de “A Metamorfose”

    A novela publicada em 1915 é uma narrativa fantástica em que o personagem central, Gregor Samsa, ao despertar certa manha, “depois de um sono intranquilo, achou-se em sua cama convertido em um monstruoso inseto”. Depois desse começo abrupto, a historia se desenvolve em torno das mudanças de comportamento que Gregor observa em si e na sua família.

  12. Gabriel disse:

    De um autor otimo que sabia o que fazia a obra ficou espetacular!!!

  13. michael disse:

    É uma leitura gostosa de se fazer,com uma linguagem bem símples,pelo menos a tradução que eu li,e recomendo a todos que gostam de ler,que leam imaginando a partir do ponto de vista do personagem.se fosse você como se sentiria.

  14. stefany monise sousa benazi disse:

    eu achei o livro muito interesante e muito inteligente ele demonstra os sentimentos e a solidão

  15. medson warley disse:

    em Praga (atual Republica Tcheca), no seio de uma família judia, e compôs suas obras Essa estoria ela e legal por que ela e antiga o homen tranz kafka tranz Kafka (1883-1924) foi um dos escritores mais importantes do seculo XX. Nasceu

  16. Danilo Drums disse:

    O livro é bom, É uma leitura gostosa de se fazer,com uma linguagem bem símples,pelo menos a tradução que eu li,e recomendo a todos que gostam de ler,que leam imaginando a partir do ponto de vista do personagem.se fosse você como se sentiria?

  17. Gabriel disse:

    e muito legau

  18. Gabriela disse:

    Devo admitir que este livro vence a barreira do tempo e se enquadra perfeitamente em nossa vida cotidiana, na qual vivemos apenas para o sistema econômico, desconhecendo então o real sentimento das pessoas conosco. Gosto muito e recomendo, já que existe uma crítica espessa, mas que deve ser levada em consideração, pois o nosso mundo vive essa agonia nas mãos de poucos.

  19. NIL disse:

    já li várias trabalhos e pesquisas sobre o livro, mas nunca tive tempo para ler a obra,até que aproveite as férias da faculdade e resolvi ler.Gostei muito ,é possível fazer várias interpretações a depender do prisma(social, psicológico, filosófico e qualquer área das ciências humanas).Uma boa leitura para reflexão da condição humana.

  20. Cláudia disse:

    Não consigo desassociar a imagem de Gregor a de um aposentado nos dias atuais. A obra fala do ser humano geral, da sociedade, da solidão, do ‘cair em si’ através de um grande choque, mas também fala do desprezo do qual certas pessoas são alvo quando não são mais ‘produtivas’, ‘proveitosas’ a nós. Penso que A Metamorfose é obra pra folhas e folhas de reflexão e estudo.É excelente e mexeu demais comigo.

  21. Valéria disse:

    Eu gostei muito do livro. Confesso que sofri com Gregor. Durante a leitura, eu ficava pensando o que eu faria se estivesse em seu lugar. Que situação desesperadora. É um livro que nos leva à reflexão. Eu chorei ao contar para minha família a parte final do livro. Só nesse momento, percebi o quanto o livro mexeu comigo.

  22. Cristina disse:

    Para refletir… Qualquer um de nós podemos a qualquer momento, tornar-mo-nos Gregorios… Vamos pensar mais nisso!!!!

  23. Rafael disse:

    Achei óbvio no que se refere a sua invalidez, que gera o desprezo de sua família já que este não contribui mais com suas vidas acomodadas. Triste é a falta de alternativas que sofre o personagem Gregorio que, desprezado por sua aparencia e incapacidade fica totalmente á mercê de seus famíliares. Achei o livro chocante, salpicado com humor sádico ao que no início parece uma situação passageira devido a despreocupação do protagonista com sua aparencia. Não posso dizer que gostei do livro, parece começar como uma comédia até que se nota que a metamorfose é permanente… só achei interesante a mensagem de que, em estado improdutivo, somos dispensáveis até para o ente mais querido.

  24. Bianca disse:

    Verdade Marisa, já arrumei… valeu!

  25. Anaclaudia disse:

    Comentário PERFEITO, valeu msm!!!

  26. Maura disse:

    Achei o livro intrigante, esperava que Grego acordasse do pesadelo e voltasse a viver normalmente. Pareceu-me uma situação vivida por pessoas que sofreram um derrame cerebral, quando perdem todos os movimentos do corpo, a fala e a total possibilidade de comunicação, mas que as condições cerebrais ainda permitem ter a noção da própria condição, quando o próprio corpo se torna uma prisão.
    Enfim, o livro é triste, mostra explicitamente a fragilidade humana em todos os sentido, física, moral, social..

  27. Fernando da Silva disse:

    Queria comentar sobre um trecho desse post que você citou que o “capitalista restringe o valor do ser humano ao que ele produz e às aparências…”. Oras, isso é óbvio, por que levar em conta algo que nada produz? Que utilidade isso tem para mim, para você? Se alguém acha o capitalismo ruim por restringir o valor humano ao que o humano produz, que pegue os mendigos na rua e leve para casa, eles não produzem nada.

    • Bianca disse:

      Olha Fernando, eu não concordo com você… quer dizer então que um ser humano, como os pobres ou mendigos, é nada para você??? Eles estão nessa situação porque nossa sociedade tão corrupta, desumana, desigual, ambiciosa e nem sei mais quanto adjetivos dizer… criou um sistema em que há pessoas que tem Bilhões, jogando fora em iates e coisas supérfluas, e outras sem oportunidade de emprego, ou sendo exploradas…
      Essas pessoas que nada produzem, em sua maioria, são fruto da ignorância imposta.. não tem acesso a educação de qualidade, tem suas famílias desestruturadas (consequência dos valores da sociedade), enfim são seres completamente marginalizados…
      Agora, eu não vou dizer que o capitalismo é 100% ruim, o problema é que nos níveis de hoje tudo se resumo a Valores monetários, e isso é péssimo… Tanto as pessoas, como a natureza sofrem da super exploração….

  28. Rafael disse:

    Análise PERFEITA. Agora se transformou em abc da literatura. Exelente!

  29. Carolina disse:

    Acho uma coisa muito interessante em todos os livro de Kafka, que eles são pequenos, mas possuem partes de pura Reflexão.
    Como um exemplo:
    no momento que o pai de Gregor joga a maça em suas costas.
    quando li o livro percebi uma coisa muito inusitada, que como muito de nos sabemos, na bíblia é sitado o fruto do conhecimento, que para muitos é uma representação da maça. Assim no momento em que o pai de Gregor joga a maça, ele possue mero conhecimento de que sua afamilia usufruiu de Gregor durante toda a sua vida !
    Indico para todo mundo esse livro, e espero que os proximos leitores disfrutem dessa magica que Kafka inventou!
    Um abraço
    Carol

  30. Fernanda disse:

    @Carolina
    Achei muito interessante essa reflexão Carolina, sou professora de Portugues escrita, já tinha lido esse livro e nunca parei para pensar sobre esses pontos inusitados!!
    Parabéns pela reflexão!!
    Um abraço
    Fernanda

  31. Márcia disse:

    @Fernanda

    @Carolina
    Fernanda, eu também achei muito interessante essa pura reflexão da Carolina, li esse livro quando eu era criança e indico para todos e todas!

  32. Magno disse:

    É um grande livro.

  33. Adriano disse:

    @Alinne de Souza
    Aline, o lazer também se tornou produto do capitalismo. Leia a “Dialética do Esclarecimento” de Adorno

  34. Felipe Parischi disse:

    Queria corrigir 2 pontos da sua Analise. Na verdade quem aparece na casa de Gregor é o Gerente e não o chefe. E na cena onde Gregor aparece para "ajudar" a irmã ja que aqueles hospedes não poderiam apreciar de verdade a musica de Grete, nessa hóra ao contrario O pai de Gregor não joga nenhuma maçã, e sim inicia-se um dialogo sobre o que fazer com o Inseto. 🙂

    • Bianca disse:

      Oi Felipe,
      sobre a parte da Maçã, eu tenho certeza que o pai atira a fruta contra o Gregor, essa foi uma das passagens que mais me marcou porque simboliza o climax do drama do romance: o Inseto torna-se insustentável, repugnante, um fardo para a família…
      Veja o trecho do Livro:
      “(…) quando nesse momento, alguma coisa, atirada de leve, voou bem ao se lado e rolou diante dele. Era uma maçã; a segunda passou voando logo em seguida por ele; Gregor ficou paralisado de susto; continuar correndo era inútil, pois o pai tinha decidido bombardeá-lo. Da fruteira em cima do bufê ele havia enchido os bolsos de maçãs e, por enquanto sem mirar direito, as atirava uma a uma. As pequenas maçãs vermelhas rolavam como que eletrizadas pelo chão e batiam umas nas outras. Uma maçã atirada sem força raspou as costas de Gregor, mas escorregou sem causar danos. Uma que logo se seguiu, pelo contrário, literalmente penetrou nas costas dele; Gregor quis continuar se arrastando, como se a dor, surpreendente e inacreditável, pudesse passar com a mudança de lugar; mas ele se sentia como se estivesse pregado no chão e esticou o corpo numa total confusão de todos os sentidos. Com o último olhar ainda viu a porta do seu quarto ser escancarada e a mãe se precipitar de combinação à frente da irmã que gritava; pois a irmã a tinha aliviado das roupas para permitir que ela respirasse com liberdade enquanto estava desacordada; viu-a correr ao encontro do pai e no caminho cair ao chão, uma a uma, as saias desapertadas; e viu quando ela, tropeçando nas saias, chegou até o lugar onde o pai estava e, abraçando-o em completa união com ele – mas nesse momento a vista de Gregor já falhava – , pediu, com as mãos na nuca do pai, que ele poupasse a vida de Gregor. (…)”.

  35. Maria José Albuqueque de Oliveira disse:

    Ao ler o livro fiquei esperando o reverso da história. Achei que a personagem metamorfoseada, ia voltar a sua forma original e desprezar todos que o desprezaram. Mas não, ela realmente morreu. Lendo e relendo se aprende muito com esta obra, ela retrata a realidade atual, mostrando claramente que só tem valor quem tem alguma coisa para oferecer. Aqueles que dependem de outros são desprezados e escondidos, para não serem vistos pela sociedade. Vimos que até a irmã que ele tanto amava, foi quem mais o desprezou depois dos primeiros tempos. Só a mãe é que, apesar de tudo, mostrou um pouco de compaixão por aquele ser intruso e insignificante.

  36. Joaquim Nunes disse:

    A história de Kafka, em "A metamorfose" mostra realmente a angústia do ser humano, vítima e algóz de seu próprio destino. Retrata, mesmo sem considerarmos a vida dentro de uma ideologia, seja capitalista, socialista, comunista, ou seja lá o que for, como uma tragédia (tão bem retratada na Grécia antiga), em que permanecemos fugindo eternamente de seu final. Sabemos muito bem o que nos espera, sabemos qual é nosso destino, mas somos tanto o inseto asqueroso que ninguém quer compartilhar ou ser, como também a família que quer se livrar (nosso lado que não aceita sermos impotentes perante a realidade da vida).  Isto faz parte do humano, do animal que tem consciência de seu "ser no mundo". Somos o animal que sabe que somos "animais". Sabemos de nossa tragédia, de nossa dor e queremos negá-la a todo instante. Não será uma forma fantasiosa (socialista, comunista, capitalista, medieval, nirvânica, edenista, etc) de vida que vai fazer de nossa vida menos trágica do que ela simplesmente é. A premência da primeira guerra mundial não pode ser usada como desculpa para a narrativa de "A Metamorfose". Se não houver guerra, haverá simplesmente nossa permanente insatisfação com a realidade. O pagamento foi menor do que esperávamos? O nosso time preferido não venceu? Não conseguimos realizar determinado objetivo de tal forma? Nada e tudo são fatores que estão invariavelmente presentes no dia-a-dia de cada um de nós. Quando assistimos alguém lutar absurdamente (sem exclusão, acredito, de qualquer ser humano) por um pedaço de alguma esmola da vida, onde sabemos que o roteiro não tenha um final feliz, dando àquele processo, uma importância que ultrapassa em muito tudo o que de razoável assistimos, conseguimos entender o que é "A Metamorfose" que Franz Kafka tão bem nos traduziu. E é importante lembrarmos de nosso fim, um inseto asqueroso, que passamos a vida inteira fugindo dele. O problema é que ele costuma surgir em nossa vida de modo inesperado, quando menos as vezes acreditamos que o tenha chegado. Isto aliás é a rotina de nossas vidas profissionais, para aqueles que lidam com as vicissitudes do ser humano, em particular na medicina. 

  37. francisco ramos disse:

    Em verdade, se refletirmos bem, A metamorfose, do Kafka, não coloca um novo plano de refle

    xão sôbre a frágil condição humana. O próprio Kafka, filho de judeus abastados, e com proble

    mas existenciais peculiares (não teve um relacionamento estável, não constituiu família

    além de não sofrer qualquer provação), enxerga o mundo e a complexa sociedade industri

    al prestes a manifestar a sua barbárie mecanizada na forma da primeira guerra mundial,

    sob um prisma muito pessoal. Não existe solução para o homem, que cria teias de valores

    que o sufocam. É como se ele mesmo fosse um "erro" da natureza. O niilismo, a alienação

    a hipocrisia,a violência e sua presença dissonante na partirura cósmica, configuram uma

    equação  insolúvel. A felicidade, essa quimera quase ridícula, apenas é sustentada, por valores inconsistentes elaborados e engendrados pelo próprio homem, consciente ou inconscientemente. E o saber da sua própria limitação biológica, vulnerabilidade e morte,

    apenas gera angústia, se ele não consegue levar uma vida "comum", enredando-se em

    seus próprios equivocos. A saga do ser humano sobre a terra, em torno de 20.000 anos,

    é a história que Kafka , tardiamente, tenta metaforicamente construir. E o mundo pós \Káfka

    incorporou novos ingredientes muito além da percepção kafkiana, e, mesmo assim, o ser humano, trabalha, paga impostos, tolera os políticos, a selvageria do consumismo, o desen

    canto dos relacionamentos interpessoais e administra sua terrível solidão com os mesmos

    tenazes que o sufocam. A saber, a sociedade capitalista industrial aprofunda os mecanismos de alienação e autodestruição, mas o homem, ou seu arremedo, continua. Com toda modéstia, e estando completamente aberto ao contraditório, acho o simbolismo de A Metamorfose muito fragilizado. Kafka quis colocar o homem, lutando contra o "sistema" e , ao final, cooptado por ele, como protagonista condenado num enredo destruido desde o seu nascimento. Mas o homem não tem nada de especial. Deslumbrado

    com o poder de pensar, refletir , criar e desabar em um negro abismo inexistente, ele parece esquecer que está submetido a uma historicidade e às leis gerais da natureza.
    Sua busca pela fruição de uma condição especial apenas depõe contra o próprio homem

    (selvagem, hipócrita, dependente e terrivelmente solitário), inconsciente de sua inutilidade

    numa escala planetária e de sua vulnerabilidade e inutilidade. Esses "pecados", contudo, são bem longinquamente anteriores a Kafka, que pediu ao seu amigo judeu Max Brod que

    queimasse toda a sua obra. A Metamorfose, enfim, está , em minha modesta opinião, bem

    aquém, por exemplo, dos Irmãos Karamázov de Fiodor Dostoyévski.

     

     

  38. Vitor Hugo disse:

    Li esta obra há uma semana, e realmente são perceptíveis as denúncias de como a sociedade atual visa somente somente o lucro (produção) e esquece-se do valor essencial humano, tornando-nos apenas máquinas tarjadas por aquilo que somos capazes de produzir.

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