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“A morte de Ivan Ilitch” de Tolstói – Resenha e Trechos Marcantes

Hoje vou comentar com vocês sobre o Livro "A Morte de Ivan Ilitch" do autor russo Lev Tolsói, um grande representante da Literatura Russa, mais especificamente do movimento Realista. Juntamente com "Ana Karerina" e "Guerra e Paz", o livro que comentaremos hoje está entre as Obras Clássicas mundiais. O tema do livro, como o proprio título nos indica, é a proximidade com a morte a qual faz o personagem principal mergulhar em uma série de reflexões sobre a vida, suas escolhas e relações pessoais.  

Quem me acompanha no Vlog "Mediários", que faço em conjunto com o Fabio (autor do Blog Pop Literal), soybre que há algumas semanas atrás houve uma Feira do Livro na minha faculdade – um ótimo momento para sair da rotina das aulas e desfrutar do prazer da leitura. Acabei comprando o livro "A morte de Ivan Ilitch" – que é uma daquelas Obras de leitura Obrigatória para todo futuro médico ou qualquer profissional da saúde – e prometi fazer uma resenha sob a minha perspectiva de estudante de medicina, espero que gostem e comentem também aqui no Blog!!

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Um pouco sobre o Autor

"Lev Nikolaievitch Tolstói nasceu em 1828, região de Tula, na Rússia. Pertencia a uma familia rica, acabou perdendo os pais muito cedo e foi criado por tias. Em 1844, iniciou sua vida acadêmica na Universidade de Kazan, porém não se dedicou aos estudos e logo tornou-se um boêmio. Mudou de faculdade, mas acabou não se formando.

Em 1851, Tolstói entrou para o Exercito, nesse período ele começou a se dedicar a escrever. Mais para frente, abandonou o exercito e se decidiu se dedicar à educação de mujiques – nome dado aos camponeses da Rússia, em sua maioria pobres e carentes. O autor foi um pouco polêmico na época tanto por suas publicações e ideais quanto por seu conflito existencial. Suas filosofias e pensamentos contrastavam com o modo como levava sua vida, o que o levou a romper com sua família, abandonar seus bens e retirar-se num monastério em 1910."

Resenha do livro "A Morte de Ivan Ilitch"

Como vocês puderam perceber da breve biografia acima, Tolstoi era um homem em conflito interior. Nesse contexto, a Morte era um dos assuntos abordados em sua obra e também, segundo relatos de amigos e conhecidos, de interesse particular do autor. Na obra que estamos analisando hoje, a Morte que é o assunto central e é apresentado por alguns pontos de vista interessantes – o do doente, da família, dos amigos, do médico.

O enredo da história se inicia com os colegas de trabalho lendo o anúncio da morte do juiz de instrução, Ivan Ilitch, que havia sido publicado no jornal. Todos comentam o fato com pesar, mas logo começam a conjecturar as possiveis mudanças de cargos e benefícios da morte do juíz. Além disso, o narrador nos mostra, de maneira irônica, os pensamentos de alguns deles que ficam aliviados que a morte não chegou a eles, e assim poderão usufruir das promoções e ainda gozar da vida.

Num segundo momento, temos o velório e a comoção dos conhecidos presentes sendo descritos. Internamente, as pessoas refletem sobre a morte, tem medo que ela chegue logo e sentem-se aliviados por se sentirem ainda imunes a tal acontecimento. A terceira parte da narração nos conta a vida de Ivan Ilitch, sua trajetória de juiz até o momento que ele se descobre doente e, mais para frente, quando compreende que está prestes a morrer. Nesse momento, Ivan relembra sua vida e suas escolhas, reflete sobre suas conquistas e tudo o que se passou, vendo os detalhes mais acidamente.

Toda a relação que se estabelece entre o doente e sua dor é incrivel, são páginas dedicadas ao monólogo dos pensamentos de Ivan, suas esperanças e frustrações ao tentar lidar com sua doença que progride rapidamente. A figura do médico também é bem interessante de ser analisada, em alguns trechos são descritas consultas e exames feitos, sempre temos o olhar do paciente nos dizendo o que está achando de tudo o que o médico faz e lhe afirma. 

O livro é bem curto, de leitura rápida e fluida, mas as reflexões que podem ser feitas dessa obra são muitas. Em especial para quem se interessa pelo tema e que o vivencia muitas vezes em sua pratica diária, como os profissionais de saúde. 

Alguns Pontos Marcantes do livro "A Morte de Ivan Ilitch"

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* Relação com a Esposa e Família – o personagem principal nos diz logo no inicio de suas reflexões que não se casou por amor, apenas para seguir os princípios de um homem decente de sua sociedade. Após pouco tempo começam os conflitos e o relacionamento familiar não é dos mais pacificos e agradáveis, ele passa cada vez mais tempo no trabalho ou jogando com amigos. Quando se percebe doente, chega a se arrepender das escolhas e de como levou sua vida até aquele momento. Sente raiva da esposa e filhos porque eles, seguindo também principios morais de decência, não admitem para Ivan que sabem que ele está morrendo. Todos seguem a vida normalmente, falam que outro tratamento irá funcionar e que nada de mal irá ocorrer, menosprezando assim seu sofrimento.

" Todos os circunstantes rebaixavam o ato terrível, horroroso, da sua morte, ele via bem, ao nível de um acaso desagradável, quase uma inconveniencia (…) via que ninguém haveria de compadecer-se dele." 

" Essa mentira que lhe era pregada nas vésperas da sua morte, a mentira que devia abaixar esse ato terrível e solene da sua morteaté o nível de todas as suas visitas, das cortinas, do esturjão do jantar… era horrivelmente penosa para Ivan Ilitch"

* Trabalho e Consquistas – No inicio o trabalho era o orgulho de Ivan, aliviava-se dos problemas familiares e das dores se concentrando em suas tarefas. O livro revela como Ivan gostava de sentir-se superior ao analisar as causas que lhe chegavam – fato que foi depois comparado a atitude do médio, pois o doente reconhece na postura daquele médico algo semelhante a usada num tribunal, o doutor fazia mil exames, investigações, e muitas perguntas para chegar a um veredicto e sentencia-lo.

"Assim como ele assumia certa expressão para falar com os acusados, o médico famoso também assumia determinada expressão"

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* Médico e Paciente – como dito acima, o personagem vê no médico um ser prepotente, que não liga muito para suas questões mais básicas (se está mal ou não), apenas exerce sua tecnica e se preocupa com o órgão doente e não com o Ivan que sofre com a doença. Além disso, a linguagem usada o afasta do doutor, precisa simplificar para termos mais acessíveis aquilo que lhe foi dito.  Hoje em dia, nas escolas de medicina, muito se discute sobre essa postura equivoca que alguns profissionais tem, que focam no órgão e não enxergam a pessoa por completo.

"as batidas no paciente, a auscultação, as perguntas que exigiam respostas formuladas de antemão e, ao que parece, desnecessárias, a expressão significativa, que sugeria o seguinte: basta que você se submeta a nós, e haveremos de arranjar tudo, sabemos sem nenhuma dúvida como arranjá-lo."

"Não se tratava da vida de Ivan Ilitch, o que existia era uma discussão entre o rim móvel e a afecção no ceco."

"No decorrer de todo o percurso, ele reexaminava tudo o que dissera o médico, esforçando-se para traduzir para uma linguagem simples todos aqueles termos cientificos confusos e ler neles uma resposta ao seguinte: estou muito mal ou, por enquanto, não é grave? Tinha a impressão de que o sentido das palavras do médico era que estava muito doente. Nas ruas, tudo lhe pareceu triste. Estavam tristes os cocheiros, as casas, os transeuntes, as vendas. E essa dor, uma dor surda, abafada, que não cessava um segundo sequer, parecia receber, em consequência das palavras imprecisas do médico, um significado novo, mais sério. Ivan Ilitch prestava agora atenção a ela com um sentimento penoso diferente."

* Dor e Sofrimento – esse é um tema universal e atemporal, o livro o explora de uma maneira tão envolvente que é impossivel não refletir sobre o sofrimento de uma doença e proximidade com a morte. Na obra o reconhecimento dessa proximidade faz o personagem sofrer, pois ele passa por dores físicas fortes e também dores morais, o seu orgulho é ferido, sente-se frágil e impotente. E como se não bastasse isso, sente-se só, sem ter com quem contar, desabafar ou ser consolado, apenas um dos empregados da casa que o trata de maneira mais digna e ganha sua afeição.

"Bastava-lhe recordar o que ele fora três meses atrás e o que era agora, lembrar com que regularidade ele descera a montanha, para que se aniquilasse toda a possibilidade de esperança."

O que achou da Resenha sobre "A Morte de Ivan Ilitch"? Deixe seus comentários e sugestões aqui no Blog!!

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Comentários




Sobre o autor | Website

Sou estudante do 6º ano de Medicina na Faculdade de Medicina da USP, blogueira desde 2012 quando fazia Cursinho pré-vestibular. Também participo do Vlog Mediários, um canal do You tube!

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2 Comentários

  1. Giovanni Rosalino disse:

    Olá Bianca, tudo certo!

    Adorei a resenha! Senti que vc tratou o livro de maneira muito completa! Parabéns 😀

    Quando estava lendo, a relação do mordomo com o Ivan lembrou-me a relação entre o mordomo e a personagem Jacinto no livro As Cidades e as Serras. Como dá pra perceber nessas obras, o mordomo, na literatura, é sempre alguém que destoa de todo o cenário, né? Nesses casos, eles trouxeram relações mais humanas em ambientes cheios de hipocrisia, típicos da sociedade burguesa.

    Ademais, é legal também perceber que os dois livros foram publicados na segunda metade do século XIX! Uma época de desilusão com os avanços que as revoluções industriais trouxeram, sendo que o ambiente nas cidades deixou de signigficar o máximo progresso humano e um lugar ideal para se viver feliz. 

    Enfim Bianca, é isso que tinha para comentar! Muito obrigado pela recomendação do livro! Foi bastante enriquecedor para refletir depois! 
    Espero que essas observações não sejam despropícias e que lhe tragam pensamentos legais!
    Beijos e até uma próxima!

    • Bianca disse:

      Oi, Giovanni!!

      Imagina, gostei muito dos seus comentários, não tinha reparado nessa semelhança entre as duas obras, muito perspicaz da sua parte!! Realmente, concordo com você que eles seram as pessoas mais humanas naquela sociedade burguesa… 

      Fico feliz que tenha gostado do post e comentado aqui, foi muito enriquecedor, tenha certeza!!! 

      Beijos e até uma próxima!! =) 

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